quinta-feira, 17 de junho de 2010

A cor dourada

madimoseli é bela menina.
podia ser ruiva, madimoseli. não é.
podia ser sã. não.

podia escrever palavras com mil acentos, mil lágrimas, mil fins. ainda não.
pode voar, mas, naturalmente, poupa seu fôlego diariamente. nada de voos rasantes,
voar é a arte do distante, voar é ter pra onde fugir.
mas pinga chuva no coração de madimoseli, pra resfriar tal coração tão quente,
que em meio a larva dos ferventes, se lava em água a amolecer.

ela fala em francês, madimoseli. me pergunta a cor do meu sorriso.
antes que eu responda, pergunta-me a cor do carrossel. - DOURADO, eu diria
se não fosse a falta de euforia, alcançar madimoseli.

domingo, 13 de junho de 2010

cigarettes and chocolate milk



um clipe bem fácil,

primeiro teria uma rua asfaltada, pequena, aliás, bem pequena. Rua de um cenário infantil.
seria noite e um poste( também pequeno) iluminaria uma parte da rua, um círculo, como em um
palco de teatro. luz não muito forte.
Depois ela traria, a passos rápidos, uma mesinha de jardim, branquinha e a colocaria bem no centro da rua. Nada de medo de carros.
Pra acompanhar, ela traria uma cadeira, depois uma caneca preta com chocolate branco e se sentaria.
mas, peraí ! Ela esqueceu o cigarro! Ela, então, se levanta, sai e volta com seu cigarro.
uum. cadê o isqueiro ? E lá vem ela, mais uma vez, trazendo o seu isqueiro em forma de arma (vem fantasiada de cowboy). Senta e, ao tentar acender seu cigarro, gotas de chuva caem.
Nada de raiva! Ela põe um guarda-chuva amarelo sobre a mesa. um suspiro de alivio.
Leva o cigarro a boca e o acende. Uma fumaça prateada sobe, fazendo malabarismos e contorcionismos. foco apenas na fumaça. Quando o foco volta pra ela, ela está lendo um livro de capa marrom, cheio de figurinhas, que acabam saindo do livro. que tal um monte de flores de cores bem vivas nascendo ao seu redor, no asfalto. E, do livro, estrelas saem e fingem ser brincos e colar dela. Ela ri com dentes de estrelas. agora um espelho e uma escova saem do livro,
ela está com cabelo estilo anos 60, se olha e se penteia e, enquanto se penteia, a cada vez que ela pisca os olhos, ela muda de roupa e de penteado, até voltar a roupa do início. ela leva o cigarro a boca mais uma vez.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

plano de fundo

não é o que mais importa
nem o que menos importa
importar é intransitivo.
me importo em andar na chuva
sem um tostão no bolso
é o prazer de ser sozinho
''eu'' não rima com esforço.
me importo com o mundo
e suas asas: portas tangentes
viajo ao extremo em cima do muro
de um lado cordeiro, de outro serpente
me importo com pessoas
feitas de fogo quando um sorriso
feitas de pó quando preciso.
me importo com cada decepção
uma atrás da outra
uma ensinando a outra
e eu crescendo
e eu notadamente crescendo.
me importo com sorrisos nas faces velhas
a vida não acaba aos cinquenta
mania de morrer de véspera.
dê a mão, o braço, o corpo, a alma
dê mordidas, dê tapas, faça caras
dê o mel, seja amargo, lute, lute
pelo dom de se importar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Memórias de uma gaveta empoeirada

É tão gostosa a sensação de quando, sem nem querer, apenas pelo hábito rasgado da vida de pregar peças, você abre aquela velha gaveta atrás de alguma coisa bem banal, como uma tampa mordida de uma caneta velha, ou alguns clips pra grudar uma página que se soltou do seu fichário em um esbarrão que você deu, mais cedo, num cara gordo da parada de ônibus. Vai saber, né ?
E quando você começa a remexer a gaveta, entre papeis e bilhetes antigos, quinquilharias e souvenirs, a cada braçada dada, tantas lembranças são renovadas, como a lembrança do dia em que alguém que você gosta muito te deu um chocolate e você guardou a embalagem, com cuidado, na gaveta. E só de tocar na embalagem, sua boca já se enche de água. Tem vezes que as memórias são mais gostosas do que o verdadeiro fato... fato!

sábado, 26 de setembro de 2009

Descarga

É dessa dependência que eu fujo. É tudo tão nocivo quando é envolvido por laços de amizade. eu quero é poeira, nada mais. Se preciso for, transformarei lágrimas em cimento e o que é sólido em vapor, por que não dizer adeus ao que antes se disse amor?
Se, pro mundo, uma foto vale mais que mil palavras,pra mim um ato vale mais que mil declarações. Me guarde pra depois, que eu azedo em sua boca. Não, não falo de vingança, falo mais alto que isso, falo que mudo e minhas mudanças ,por si sós, derramam mais sangue que cem mil traições.
E eu só estou esperando uma desculpa, pra trocar todos vocês por um jogo de baralho, ou, quem sabe, estou esperando a oportunidade de trocar todos vocês por um anel pesado.
Mas podem aguardar sentados que vai demorar para eu sumir, pois eu ainda me arrasto. No entanto, a cada centímetro do sulco que eu causo ao assoalho, aumenta a distância entre nossos apertos de mãos. guardo um sorriso pro final, cordialidade acima de tudo.
E eu, que nunca fui a favor de pagar na mesma moeda, não vejo a hora de ouvir sussurros dos mesmos erros, mas com outro protagonista.
Vai ver as dosagens de imunidade já estão surtindo efeito.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Mais uma ode

Imagino tudo borrado,
sem muitos contornos,
do meu lado uma porta,
em frente um rosto

E, nos olhos cor de laranja,
vejo o meu próximo passo:
virtuo um abraço.


Penso nos olhos laranja,
enquanto subo as escadas,
olhos marejados
de tantos outros olhos.
Olhos que pensam.

E de cor em cor, olhos,
você vê tantos outros mundos,
tantos outros gestos.

Você, que enxerga
poros e poeiras,
partes perfeitas
de todos os todos.

Em sua homenagem, olhos,
declaro hoje
como o dia dos olhos,
o dia dos olhos que refletem
a cor da tua camisa,
a cor da tua alma.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Partes

Os perfumes dizem tanto pra mim, que quase os vejo como bolas de cristal, pois quando chega você com seu amadeirado, de sorriso meia-boca no rosto . - Quer pastilha?
Ou quem sabe aquele doce floral, mas você teria que estudar, você estaria sério, não é? E, sim, eu sei distinguir um 212 de um wood.
E existem muitas diferenças entre as fragrâncias, embora eu nunca pense nelas, embora sejam tão segundo plano, que sempre saem para que eu possa entrar. Então entro, eu ,com uma essência só minha que frasco nenhum contém. E, descompassado, escrevo o que penso e enxergo o que sinto. Uma essência para cada um dos meus eus.