segunda-feira, 19 de outubro de 2009

plano de fundo

não é o que mais importa
nem o que menos importa
importar é intransitivo.
me importo em andar na chuva
sem um tostão no bolso
é o prazer de ser sozinho
''eu'' não rima com esforço.
me importo com o mundo
e suas asas: portas tangentes
viajo ao extremo em cima do muro
de um lado cordeiro, de outro serpente
me importo com pessoas
feitas de fogo quando um sorriso
feitas de pó quando preciso.
me importo com cada decepção
uma atrás da outra
uma ensinando a outra
e eu crescendo
e eu notadamente crescendo.
me importo com sorrisos nas faces velhas
a vida não acaba aos cinquenta
mania de morrer de véspera.
dê a mão, o braço, o corpo, a alma
dê mordidas, dê tapas, faça caras
dê o mel, seja amargo, lute, lute
pelo dom de se importar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Memórias de uma gaveta empoeirada

É tão gostosa a sensação de quando, sem nem querer, apenas pelo hábito rasgado da vida de pregar peças, você abre aquela velha gaveta atrás de alguma coisa bem banal, como uma tampa mordida de uma caneta velha, ou alguns clips pra grudar uma página que se soltou do seu fichário em um esbarrão que você deu, mais cedo, num cara gordo da parada de ônibus. Vai saber, né ?
E quando você começa a remexer a gaveta, entre papeis e bilhetes antigos, quinquilharias e souvenirs, a cada braçada dada, tantas lembranças são renovadas, como a lembrança do dia em que alguém que você gosta muito te deu um chocolate e você guardou a embalagem, com cuidado, na gaveta. E só de tocar na embalagem, sua boca já se enche de água. Tem vezes que as memórias são mais gostosas do que o verdadeiro fato... fato!