quinta-feira, 31 de março de 2011

em vista, a loucura



- Você o conhece?
- Conheço-o tão pouco que nem sei nomeá-lo.
- Sabe pelo menos reconhecê-lo diante luz tão forte?
- Não o perderia nem na mais forte escuridão.
- Guie-o.
- Não sou o guia mais indicado, senhora, sei tão pouco dos homens e seus sentimentos, que, sendo eu o seu guia, nada mais poderia fazer senão aliená-lo no meu casulo de sonhos extra-humanos, sonho em ser anjo e apenas em anjos penso.
- Entendo sua colocação, mas eu te observo há muito. Guie-o aos sonhos angelicais, ao sopro prateado dos querubins; não se esqueça, no entanto, de, entre um sonho e outro, brindar a tua carne, pois essa te torna capaz.
- De que capacidade se referes, mestra? Da carne só retiro o prazer do toque. Além do toque, ela não me sensibiliza, ela não me faz fugaz, não liquefaz meus desejos, nem os petrifica. só há o toque.
- Criança, deixe os receios, eu sei o que te digo: o que não te proporciona nada é esse teu recatado medo. merda! pare! merd!
- Senhora, não grite comigo. Sou frágil como estas lágrimas que brilham. Pare, senhora, pare de gritar, antes que eu sinta frio nesse dia tão quente.
- Então me prometa reagir... vá na frente daquele que vos espera.vá!
- Como se chamas, senhora?
- Você me chama de loucura, mas sou o que você é.


sexta-feira, 11 de março de 2011

estrelas do céu em teias de aranha

Não pede palavras de consolo aquele que ao silêncio se doa. insensato e profano, o louco que se doa. Louco. E se esquece de olhar pro céu aquele que se prende à vida, como quem vive pra solução diária do que realmente é diário, do profano solitário completamente cabível numa caixa de fósforos, queimados.
Uma leitura do dinamismo do mundo despercebido. Primeiro vêm aqueles soldados, todos no pleno domínio da lavagem moral que escorre dos seus autos, empenhados no bem social paradigmático e positivo e idiota. Se cansando nos artifícios do corpo, mas o corpo cresce às custas do céu. Eis o vazio do poder desses que não olham o céu amarelo.
Bate a escuridão e os normais aparecem de carruagem, saboreando a parte do mundo que vos pertence e, de vagar, escorregam nos delitos da carne que também vos pertence. Escureceu e os normais dominaram as praças, com seus passatempos de morfina. Dirige-se sem o céu, só com a terra e o tempo tangível (aqui, entende-se terra por pedaço de chão! Não há tempo para enxergá-la como o sistema da origem) bebe-se, fuma-se, nasce-se sem o céu.
O grito distante aponta a tristeza pungente no coração do último tipo de gente: eis as bailarinas.
Nas sacadas, vejo a mágica e a luz dissonante ofuscar todos os meus anseios e me alegro; no fundo do baú, entretanto, as bailarinas se escondem. Guardam, na escuridão das tábuas mofadas, seus pés doloridos e deformados, seus joelhos que estalam, seus amores que somem ... e o céu, maldito céu que embaça.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

meia noite e quarenta

Não nomeie! A tinta vermelha que pinta esse conto nunca se apagará, então, por favor, não nomeie.
Todas as liras desvairadas conseguiriam decifrar
Todas as arpas frágeis poderias imitar
Todos os ramos rebelantes brotariam para olhar
todos os inomináveis ousariam recitar em uníssono o teu nome... inventado.

Não nomeie! En
tre a areia e o mar existe mais que desculpas, existe o infinito paralelo do não achar-se não, e o fim, e o rio, e o éter.

Não nomeie! Não nomeie o nome da mão, da palma, do avesso, do verso.

Não nomeie o que a tinta vermelha apagou.

domingo, 16 de janeiro de 2011

foi ontem

todas as juras

modernas, impunes

paralelas, inexatas

lavadas de mentiras.



todos os acertos

na sorte do acaso

no escuro da hora

no terreno baldio.



e o tédio constrói,

é só tédio.



toda aquela esperança:

alguém como eu

as bússolas apontavam o caminho:

o caminho errado.



todos sabem, eu sei

alguém como você

pode fazer o tempo esperar,

mas os tambores não param.



e o tédio me dói,

é só o tédio.